segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Português Vulgar. Para o merda da UIAG da Administração. Prevaricador SAFADO


São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua.

Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. 'Pra caralho', por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que 'Pra caralho?' 'Pra caralho' tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.

- A Via-Láctea tem estrelas pra caralho;
- O Sol é quente pra caralho;
- O universo é antigo pra caralho;
- Eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do 'Pra caralho', mas no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso 'Nem fodendo!'. O 'Não, não e não' e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade 'Não, absolutamente não!' o substituem. O 'Nem fodendo' é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, e você fica com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no Litoral? Não perca tempo, nem paciência. Solte logo um definitivo 'Marquinho, presta atenção, filho querido, nem fodendo!' O impertinente se manca na hora e vai pro shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o 'porra nenhuma!' atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um 'PhD porra nenhuma!', ou 'ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!'. O 'porra nenhuma', como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos 'aspone'(assessor de porra nenhuma), 'chepone' (chefe de porra nenhuma), 'repone' (responsável de porra nenhuma) e, mais recentemente, o 'prepone' (presidente de porra nenhuma).

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um 'puta-que-pariu!', ou seu correlato 'puta-que-o-pariu!', falando assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um 'puta-que-o- pariu!' dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso 'vai tomar no cu!' e sua maravilhosa e reforçadora derivação 'vai tomar no olho do seu cu!'. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passando o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: 'Chega! Vai tomar no olho do seu cu!'. Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: 'Fudeu!' e sua derivação mais avassaladora ainda: 'Fudeu de vez!'. Você conhece definição mais exata e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de Polícia atrás de você mandando você parar. O que você fala? 'Fodeu de vez!'..

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de 'foda-se!' que ele fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do 'foda-se!' O 'foda-se!' aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. 'Não quer sair comigo? Então foda-se!'. 'Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!'.O direito ao 'foda-se!' deveria estar assegurado na Constituição Federal.


Liberdade, Igualdade, Fraternidade e 'Foda-se!'