quinta-feira, 26 de março de 2009

Corrupção

Em nome do pai
 
O bafafá midiático, jurídico e político em torno do delegado Protógenes Queiroz, o homem que investigou o megaesquema de corrupção comandado por figuras como Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pita, é a grande fábula da República.

O caso lembra esses casos de delinquência juvenil em que uma autoridade cospe regras e propõe tolerância zero, até que descobre que entre os protagonistas do crime está o filhote querido, sonho de consumo do seu honorável e exemplar atavismo.

O delegado da Polícia Federal, sabe-se agora, depois dos primeiros depoimentos “sigilosos” na CPI das Escutas Clandestinas, na Câmara Federal, foi instado por ordem superior a vasculhar a vida e descobrir os passos da quadrilha.

Usou das artimanhas que todo araponga usa na América Latina, espalhou olheiros por aí, gravou telefonemas suspeitos, detectou negócios escusos por todo o País, flagrou autoridades e senhores notáveis envolvidos na rede de crimes do Opportunity.

Na safadeza endêmica de que tanto fala o ex-presidente FHC, Protógenes e seus agentes se embrenharam pelas vísceras do corpo putrefato da República e – como a turma de Eliot Ness – acabaram descobrindo que todos são amigos de Al Capone.

Com os mesmos mecanismos tecnológicos e humanos que sempre são usados nas espionagens tupiniquins – inclusive o tal do “guardião”, velho conhecido dos escândalos potiguares – a turma de Protógenes conseguiu descobrir a pólvora.

E bote pólvora no paiol. Pois os tentáculos do esquema DD (Daniel Dantas ou Decoro à Distância) uniam gente de tudo que era partido, poderes e governos. E ainda manipulava a figura especial e emblemática de um filho do presidente do Brasil.

O agente Lúcio Godoy sustentou na CPI a mesma posição de Protógenes: foi Luiz Inácio Lula da Silva quem sugeriu a Operação Satiagraha à Polícia Federal. Movido pelo instinto paterno, e pelas notícias, o presidente queria tirar a prova dos nove.

E foi exatamente a inserção do nome de Lulinha no processo que detonou o resultado da operação e transformou, da noite para o dia, a figura heróica do delegado numa espécie de inimigo público nº 1. Sem contar a presença de grandes vultos da República.

A tal endemia repetida por FHC vive seu estágio agudo, iniciado no seu próprio governo e em metástase na era Lula. O quadro institucional no Brasil é de extrema fragilidade, há uma visível corrosão do Estado democrático e um descrédito total.

Apressada em proteger alguns nomes, a própria grande imprensa cai no equívoco de lançar na frigideira do julgamento público as instituições, ao invés de queimar as personalidades que as poluem e imolam seus estatutos e suas regras republicanas.

Que se danem os parlamentares corruptos, mas permaneça erguido o Congresso; que se exponham os magistrados, mas preserve-se a Justiça; que quebre a Camargo Correa, mas salve-se o mercado; que se castigue um filho, não importando a força do pai.

O clima inquisitorial sobre as instituições políticas está generalizando o descrédito da sociedade, a condenação prévia da Operação Satiagraha poderá salvar lobos em pele de cordeiro. O Brasil vive a piada do bode na sala para administrar o cu de burro.

Quando o bode expiatório sair de cena, leia-se Protógenes Queiroz, tudo voltará ao “anormal”, imagino. Ou talvez, como querem, fechamos o Legislativo (feito pelo nosso voto) em favor dos poderes exercidos por notáveis arremedos de democratas.

Quem sonha com um Senado fechado, no segundo sonho cala a imprensa, no terceiro amordaça o povo. Foi assim no Leste Europeu e em Cuba, é assim na Venezuela, assim será no Brasil caso se leve adiante tamanha campanha de proteção aos corruptos.